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Por sermos uma organização que nasce de uma violência política, fundada e composta majoritáriamente por mulheres negras e periféricas, refletimos desde o início sobre a necessidade do cuidado para nossa re-existência.
Da necessidade surge a intenção. Da intenção buscamos a prática.
Conheça abaixo como foi o caminho de elaboração das nossas políticas e quais as referências nos orientam nessa jornada.
Nosso Processo
Cuidado como Necessidade
Nascida formalmente em julho de 2018, o Instituto Marielle Franco surgiu como uma forma de organizar e fortalecer o trabalho que a família de Marielle já vinha fazendo desde 14 de março daquele ano.
Mas é apenas no final de 2019 que a organização passa a contar com uma equipe. O ano seguinte, que seria dedicado a estruturação do Instituto, é também o ano da Pandemia da Covid-19, dos assassinatos de George Floyd e Beto Freitas, e da volta do Brasil ao mapa da fome. Em 2020 a palavra "cuidado" passou a ocupar a centralidade do debate em todo mundo e se tornou critério essencial para muitas decisões que tivemos que tomar naquele ano.
Leia o post "De março a março - Cuidado como necessidade" no nosso blog para conhecer um pouco mais dessa história.
Cuidado como intenção
A elaboração das políticas de cuidado do Instituto Marielle Franco se iniciaram então em 2020, durante o processo de planejamento estratégico na organização. Quando começamos a dar nossos primeiros passos de estruturação tínhamos a certeza de que esse precisava ser um espaço onde o cuidado estivesse no centro da estratégia.
Seguíamos as pistas da trajetória do movimento de mulheres negras que sempre encontrou no cuidado uma ferramenta de resistência e luta por libertação.
Não sabíamos exatamente o que queríamos, mas sabíamos que não queríamos construir um espaço adoecedor em meio a uma sociedade já tão adoecida. Não queríamos naturalizar ou reproduzir a lógica de violência enraizada históricamente.
Com essa intenção definida, encaramos o desafio de tentar colocar em prática o desejo de construir uma organização saudável, justamente no ano em que a saúde - em todas as suas dimensões - se tornou tão escassa, e a crise humanitária, econômica, política, ambiental atropelou qualquer possibilidade de previsibilidade e planejamento sólido.
Cuidado como prática
Ao final de março de 2021, sentimos coletivamente que estávamos chegando aos nossos limites pessoais e profissionais. Resolvemos então realizar o que chamamos de Imersão de Respiro. Tiramos 10 dias de recesso coletivo para que pudéssemos descansar e recuperar as energias, e em seguida entramos em um período de algumas semanas focadas em olhar para dentro da organização.
Começamos os debates pela reflexão sobre o que são cuidados coletivos para cada uma de nós, justamente por tudo que havíamos passado naquele ano tão duro e para alinharmos esse entendimento e começarmos a priorizar quais políticas de cuidados iríamos materializar.
Leia o post "14 pensamentos sobre cuidados coletivos" no nosso blog para conhecer um pouco mais dessa história.
As 4 dimensões dos
cuidados coletivos.
Cuidado com nós mesmas.
Buscamos nos desenvolver pessoalmente e profissionalmente ao longo dessa caminhada, e nos comprometemos a cuidar das principais ferramentas que cada uma de nós tem para transformar o mundo: nosso corpo, nossa mente e nossas emoções.
Cuidado umas com as outras.
Queremos o bem umas das outras e buscamos escutar, confiar, acolher e apoiar nossas parceiras de trabalho.
Cuidado com o Instituto.
Entendemos que o Instituto é uma semente que estamos plantando no mundo e que precisa de cuidado e proteção para seguir crescendo firme e forte.
Cuidado com o trabalho que colocamos no mundo.
Sabemos da responsabilidade que é o desafio com o qual o Instituto lida cotidianamente por isso cuidamos para que o trabalho que colocamos no mundo seja o melhor possível.
Três Premissas
O cuidado é um compromisso ético-político coletivo, de mão dupla, dos indivíduos e da organização.
O cuidado deve ser práticado com equidade. Pessoas que vivem realidades diferentes precisam de políticas de bem-estar diferentes.
O cuidado é um processo contínuo. De curto, médio e longo prazo, sempre a ser revisitado para construir uma organização sustentável.
- Diário dos Cuidados ColetivosReflexões, inspirações e práticas para nossa política de cuidados.
Práticas que buscamos
Nos cartazes abaixo reunimos algumas práticas que colocamos no horizonte da nossa política de cuidados.
Buscamos viabilizar políticas que possam não apenas garantir direitos trabalhistas, mas ir além do que já existe.
Temos ciclos de reflexões 360º, reflexões contínuas, momentos de treinamento, embarques formativos e estimulamos o desenvolvimento pessoal e profissional de cada uma através de apoios.
Buscamos criar um espaço saudável de troca entre a equipe, estamos estruturando canais de comunicação internas e procuramos constrir uma cultura do papo franco entre nós.
Férias e recessos são essenciais e precisam ser respeitados. Tentamos trabalhar o mínimo possível finais de semana e fora dos horários razoáveis. Quando temos que fazer buscamos compensar com folgas.
Somos flexíveis com os horários para encaixar atividades de autocuidado e formação, incentivamos umas às outras a se exercitarem e cuidarem da mente, buscamos viabilizar recursos para apoiar essas demandas.
Estamos nos esforçando para conseguir priorizar o nosso trabalho, buscando diminuir o número de abas abertas para nos dedicarmos às frentes mais importantes.
Acesse nosso planejamento estratégico
para conhecer mais sobre o processo de estruturação
do Instituto Marielle Franco.